Como nasce um contador de histórias? Do modo mais simples possível, contando fatos. Você não precisa quebrar a cabeça imaginando um cenário fantástico para sua história. Até algo simples como voltar da padaria, pode render um enredo e tanto.
Depois de comprar meia-dúzia de pãezinhos, Adriano voltava para casa. Já era um homenzinho, diziam os pais que já lhe confiavam pequenas tarefas, como limpar o jardim, lavar a louça ou dar banho no Sabão - o cãozinho vira-latas. Adriano gostava de ser prestativo, e sempre que podia ia a padaria. Era bom aquele gostinho de liberdade. Apesar da casa ficar cinco quarteirões da padaria e com frequência, ao voltar, sua mãe o esperava da janela, o menino não chiava.
No caminho, encontrou com os amigos Rafael e Bernardo. Não eram muito mais velhos que Adriano, mesmo assim os pais destes já deixavam que andassem sozinhos, desde que em áreas pré-determinadas - quadra de futebol, fliperama ou parque municipal.
- Ta a fim de ir até o parque? - Convidou Rafael segurando o skate.
- Vão jogar bola? - Perguntou Adriano.
- Melhor que isso. - Disse Bernardo animado, montado em sua bicicleta. - Vamos ver um "ET".
Adriano arregalou os olhos - Um ET de verdade?!
- Bem, não sabemos se é de verdade, vamos lá checar.
Adriano ainda parecia não acreditar.
- E como é que vocês sabem que tem um ET lá?
Rafael respondeu com uma pergunta. - Se lembra daquela chuva de meteoros semana passada?
Adriano acessou o banco de dados da memória e se lembrou. Desde o comecinho do mês, canais de televisão vinham noticiando uma Chuva de Meteoros para o dia 14. De fato, na data em questão, noite clara, ocorreu o evento cósmico que foi possível acompanhar a olho nu.
- Lembro sim, mas o que tem isso a ver?
- Dizem que na mesma hora da Chuva de Meteoros, algo caiu lá no parque. - Narrava Bernardo, caprichando no ar de mistério. - Pensavam que podia ser um meteoro, mas não é.
- E como você sabe?
- Tem gente que diz enxergar uma luz. - Continuou Rafael. - Algo meio esverdeado vagando por entre as árvores. Dizem que costuma aparecer no fim de tarde.
Adriano não precisava checar as horas para saber que era tarde. O sol jogava um laranja aguado por todo horizonte e o ar já soprava um friozinho familiar. Em duas ou três horas, a noite cairia.
- Vocês estão pensando em ir ao parque a essa hora?
Rafael e Bernardo trocam olhares cumpliciosos de "sem dúvida".
- Mas e seus pais? Deixaram?
- Não vamos demorar. - Disse Rafael, acrescentando. - Vamos dar uma olhada, se não virmos nada voltamos.
Mesmo a história toda parecendo só um pretexto para ficar mais tempo fora de casa, Adriano estava tentado. O problema era o saco de pães para o lanche que sua mãe mandou comprar. Ainda que não cronometrasse o tempo que o filho levava para ir e voltar da padaria, Adriano relutava em abusar da confiança da mãe.
- Vamos só dar uma olhada e voltamos?
- Isso. - Disseram ao mesmo tempo Rafael e Bernardo.
Adriano se convence. Se daria uma espiada rápida, não faria mal demorar além do habitual para chegar em casa. Qualquer coisa, pensou, diria que o caixa da padaria estava muito cheio.
E lá foram eles; Rafael em seu skate, Bernardo em sua bicicleta levando junto Adriano - que segurava o saco de pães. A emoção de talvez encontrar algo desconhecido, superavam a precaução. Atravessando o cruzamento na faixa de pedestres, o trio toma o caminho oposto ao bairro, tomando distância do tráfego de veículos, do buzinaço e o blábláblá. Quando Adriano olha para trás, para ter noção do quanto se afastaram, as casas estavam tão longe que só eram visíveis pequenos pontos luminosos.
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Viram? Uma história pode ter emoção aproveitando fatos dos mais improváveis. Foi justamente assim que nasceu meu primeiro gibizinho. Um trabalho de escola para a 5ª série. Podia ser feito em grupo ou dupla. Meu amigo ficou responsável pela revisão e eu pela edição. A história girava em torna de um office-boy sonhador decidido a passar a perna no relógio.
Um Menino, seu Saco de Pães e a Garota de Sírius - I Capítulo
No caminho, encontrou com os amigos Rafael e Bernardo. Não eram muito mais velhos que Adriano, mesmo assim os pais destes já deixavam que andassem sozinhos, desde que em áreas pré-determinadas - quadra de futebol, fliperama ou parque municipal.
- Ta a fim de ir até o parque? - Convidou Rafael segurando o skate.
- Vão jogar bola? - Perguntou Adriano.
- Melhor que isso. - Disse Bernardo animado, montado em sua bicicleta. - Vamos ver um "ET".
Adriano arregalou os olhos - Um ET de verdade?!
- Bem, não sabemos se é de verdade, vamos lá checar.
Adriano ainda parecia não acreditar.
- E como é que vocês sabem que tem um ET lá?
Rafael respondeu com uma pergunta. - Se lembra daquela chuva de meteoros semana passada?
Adriano acessou o banco de dados da memória e se lembrou. Desde o comecinho do mês, canais de televisão vinham noticiando uma Chuva de Meteoros para o dia 14. De fato, na data em questão, noite clara, ocorreu o evento cósmico que foi possível acompanhar a olho nu.
- Lembro sim, mas o que tem isso a ver?
- Dizem que na mesma hora da Chuva de Meteoros, algo caiu lá no parque. - Narrava Bernardo, caprichando no ar de mistério. - Pensavam que podia ser um meteoro, mas não é.
- E como você sabe?
- Tem gente que diz enxergar uma luz. - Continuou Rafael. - Algo meio esverdeado vagando por entre as árvores. Dizem que costuma aparecer no fim de tarde.
Adriano não precisava checar as horas para saber que era tarde. O sol jogava um laranja aguado por todo horizonte e o ar já soprava um friozinho familiar. Em duas ou três horas, a noite cairia.
- Vocês estão pensando em ir ao parque a essa hora?
Rafael e Bernardo trocam olhares cumpliciosos de "sem dúvida".
- Mas e seus pais? Deixaram?
- Não vamos demorar. - Disse Rafael, acrescentando. - Vamos dar uma olhada, se não virmos nada voltamos.
Mesmo a história toda parecendo só um pretexto para ficar mais tempo fora de casa, Adriano estava tentado. O problema era o saco de pães para o lanche que sua mãe mandou comprar. Ainda que não cronometrasse o tempo que o filho levava para ir e voltar da padaria, Adriano relutava em abusar da confiança da mãe.
- Vamos só dar uma olhada e voltamos?
- Isso. - Disseram ao mesmo tempo Rafael e Bernardo.
Adriano se convence. Se daria uma espiada rápida, não faria mal demorar além do habitual para chegar em casa. Qualquer coisa, pensou, diria que o caixa da padaria estava muito cheio.
E lá foram eles; Rafael em seu skate, Bernardo em sua bicicleta levando junto Adriano - que segurava o saco de pães. A emoção de talvez encontrar algo desconhecido, superavam a precaução. Atravessando o cruzamento na faixa de pedestres, o trio toma o caminho oposto ao bairro, tomando distância do tráfego de veículos, do buzinaço e o blábláblá. Quando Adriano olha para trás, para ter noção do quanto se afastaram, as casas estavam tão longe que só eram visíveis pequenos pontos luminosos.
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Viram? Uma história pode ter emoção aproveitando fatos dos mais improváveis. Foi justamente assim que nasceu meu primeiro gibizinho. Um trabalho de escola para a 5ª série. Podia ser feito em grupo ou dupla. Meu amigo ficou responsável pela revisão e eu pela edição. A história girava em torna de um office-boy sonhador decidido a passar a perna no relógio.

Apesar de conter uns erros de português, esse trabalho nos fez ganhar um "A". Quem vê pode dizer que a professora foi boazinha em ter dado uma nota boa (boazinha até demais). Mas o objetivo desse projeto não foi reconhecer potenciais escritores/ ilustradores. Foi fazer algo que cada vez menos se nota: estimular a imaginação.
"Naqueles tempos", década de 90, as coisas eram mais simples, digamos assim. Computador
(quem tinha) era usado para se jogar joguinho e olhe lá. As escolas estimulavam a criatividade dos alunos. E os alunos (a maioria) se sentiam estimulados. Hoje meio que banalizamos a importância de exercitar a criatividade precoce.
(quem tinha) era usado para se jogar joguinho e olhe lá. As escolas estimulavam a criatividade dos alunos. E os alunos (a maioria) se sentiam estimulados. Hoje meio que banalizamos a importância de exercitar a criatividade precoce.
Obs: Trabalho foi tão bem aceito que a professora duvidou que tivéssemos feito sozinhos.
Saber desenhar segue o mesmo conceito. Antigamente, meus desenhos não eram melhor que isso. Desenhar pessoas nunca foi minha especialidade. Um círculo, encima dum palito, com duas varetinhas como braços e pernas e tava pronto o personagem. Desenhar animais também era um martírio. Conseguia desenhar razoavelmente bem o corpo, mas braços/ mãos/ pernas e pés sem chance. Para superar essas limitações tive que usar a comum e velha arte de treino. E ainda estou a treinar.
Meu amigo de fuço molhado Rex (mistura de Rask com vira-lata). Maluco como não tem igual.
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